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ORIGEM DA UMBANDA
ZÉLIO DE MORAES
O projeto para implementação oficial da Umbanda já existia no plano astral desde há muito tempo, aguardando, desde então, o momento mais propício para que pudesse ser colocado em vigor. 1908 foi o ano em que os espíritos superiores julgaram prudente apresentar abertamente a Umbanda ao mundo. Já havia alguns terreiros espalhados pelo Brasil e a experiência estava rendendo bons frutos mas, a partir de agora, a Umbanda existiria oficialmente e caminharia, paulatinamente, sob a direção de bons espíritos, para a unificação de pensamentos, idéias e ideais em torno da prática do amor e da caridade pura.
ZÉLIO DE MORAES
Nesta época, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem de classe média contando apenas 17 anos de idade, foi acometido de uma estranha e repentina paralisia, que o deixava, hora com o corpo encurvado como um velho, falando frases aparentemente destituídas de sentido, hora como alguém extremamente ágil, semelhante a um felino e grande conhecedor das propriedades das plantas e dos segredos da natureza. Durante tais “crises”, fortes dores de cabeça assolavam o jovem. Preocupada com a situação do rapaz, sua mãe agendou – sem que o mesmo soubesse – uma visita à Federação Espírita de Niterói, uma tradicional casa de auxílio espírita kardecista [1], pois já havia consultado médicos e até mesmo três exorcismos há haviam sido realizados por padres, sem sucesso. Surpreendentemente, na véspera do dia marcado, Zélio afirmou: “Amanhã estarei curado!”. No dia seguinte, como previsto, conseguiu erguer-se e caminhar como se nada lhe tivesse acontecido nos dias anteriores. Nem os médicos e nem os seus tios católicos souberam explicar o ocorrido.
Chegando à sede da instituição kardecista, sua mãe explicou ao presidente da sessão o sucedido com o rapaz, que foi encaminhado a tomar um dos assentos à mesa. Após a prece inicial, subitamente, Zélio pediu licença e afirmou que faltava algo ali. Ainda meio espantados, viram os presentes o jovem se levantar, ir ao jardim, colher uma rosa branca e depositá-la sobre a mesa. “Agora podemos continuar!”, afirmou. Talvez Zélio não soubesse explicar o porquê de ter sentido necessidade de uma flor no ambiente mas, hoje, sabe-se perfeitamente que elementos oriundos da natureza, como ervas, pedras, flores, água, etc, podem ceder parte de sua energia natural, servindo de firmeza energética e facilitando a sintonia com os espíritos da natureza e a conseqüente incorporação, que foi o que se sucedeu.
Reiniciados os trabalhos, manifestaram-se em diversos médiuns espíritos que se diziam índios (caboclos) e negros escravos (pretos-velhos), os quais foram imediatamente convidados a desincorporar, advertidos de seu provável atraso espiritual. Zélio, que nunca havia tido contato com qualquer terreiro, ou mesmo centro kardecista, começou, também, a sentir a aproximação de um espírito que, por fim, incorporou no rapaz. O presidente da mesa pediu-lhe, então, que se identificasse. Pela boca de Zélio, então, fez-se ouvir a resposta: “Eu sou apenas um caboclo brasileiro”. Continuando, indagou o caboclo a razão pela qual os espíritos que haviam incorporado há pouco tinham sido considerados atrasados e tão contundentemente repudiados, se pela diferença de cor da pele ou pela classe social com que se apresentavam. E prosseguiu: “Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornam iguais na morte; mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Por que não podem vos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas socialmente importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além? Por que não aos caboclos e pretos-velhos? Acaso não foram eles também filhos do mesmo Deus?”.
CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS
Seguiu-se ligeira discussão, seguida do diálogo travado entre o caboclo e um dos médiuns presentes, que perguntou ao espírito: “Por que o irmão fala nesses termos, pretendendo que esta mesa aceite a manifestação de espíritos que pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente atrasados? E qual o seu nome, irmão?” Respondeu o caboclo: “Se julgam atrasados esses espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei em casa deste aparelho (o médium Zélio) para dar início a um culto em que esses pretos e esses índios poderão dar a sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E, se querem saber o meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim!”; e continuou: “Venho trazer a Umbanda, uma religião que harmonizará as famílias e que há de perdurar até o final dos séculos!”. Indagado, ironicamente, se julgava que alguém assistiria ao seu culto, respondeu: “Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei!”.
No dia seguinte, 16 de novembro de 1908, na casa de Zélio, na rua Floriano Peixoto, 30, em Neves (Niterói), por volta das 20:00h, diversos membros da Federação Espírita já se reuniam aguardando a manifestação do caboclo a fim de atestar a farsa da comunicação da véspera. Centenas de pessoas também se aglomeravam para testemunhar aquele momento que ficaria conhecido como o início oficial da religião de Umbanda no Brasil.
Às 20:00h, pontualmente, incorporou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, que reafirmou:
“- Sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas e trago a missão de estabelecer as bases da Umbanda, na qual espíritos de índios e de escravos vêm cumprir determinações do Astral. E tenho esse nome porque não haverá caminhos fechados para mim ou para a religião que estou fundando!”.
Explicou, ainda, que a nova religião daria espaço aos espíritos que não podiam se apresentam em centros kardecistas e que também não encontravam oportunidade de trabalho dentro das seitas africanas, já deturpadas e dirigidas quase que completamente para obras de feitiçaria. A caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste culto, que teria por base o Evangelho de Cristo, adotando Jesus como mestre supremo. E, sobre a Umbanda, concluiu: “Todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos, e a nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai.” Passou, a seguir, a estabelecer as diretrizes que a nova religião deveria seguir, com relação aos fundamentos básicos, sessões, vestes e atendimentos. Afirmou que a Umbanda seria a religião que abraçaria todos os que estivessem necessitando de auxílio ou conforto, independente de raça, idade, sexo, credo ou posição social.
Após estabelecer as bases da religião, conversou em alemão, inglês, latim e diversas outras línguas, sobre temas diversos, com os presentes, que haviam trazido, propositalmente, pessoas versadas nos referidos idiomas, deixando-os assombrados com sua desenvoltura e clareza de pensamentos.
A seguir, fez uma série de revelações sobre o futuro da Humanidade: “Este mundo de iniqüidades, mais uma vez será varrido pela dor, pela ambição do homem e pelo desrespeito às leis de Deus. As mulheres perderão a honra e a vergonha, a vil moeda comprará caráteres e o próprio homem se tornará efeminado. Uma onda de sangue varrerá a Europa e quando todos acharem que o pior já foi atingido, uma outra onda de sangue, muito pior do que a primeira, voltará a envolver a Humanidade e, um único engenheiro militar, será capaz de destruir, em segundos, milhares de pessoas. O homem será vítima de sua própria máquina de destruição.”
Após despedir-se, desincorporou, dando passagem ao segundo espírito, que se apresentou como um preto-velho, de nome Pai Antônio de Aruanda. Com o tempo, outras entidades começaram a se apresentar por meio de Zélio, como Ogum, criança, etc.
As reuniões na casa de Zélio se repetiram por várias noites seguidas, durante as quais o Caboclo das Sete Encruzilhadas era continuamente testado de diferentes maneiras pelos presentes que ainda guardavam alguma dúvida. Paralelamente, o trabalho de caridade aumentava, na medida em que inúmeras pessoas enfermas o procuravam e, através da Umbanda, encontravam a cura para os seus males físicos e espirituais. Alguns, considerados loucos devido as suas incorporações espontâneas, puderam finalmente resolver os seus problemas...
O Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou no mesmo ano a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, que tinha esse nome por não ser permitido, na época o registro sob a denominação de “Umbanda” e que foi dirigida pelo dedicado médium Zélio Fernandino de Moraes até a época de seu desencarne com 84 anos, em 03 de setembro de 1975 [2]. Sobre a denominação de “Tenda”, justificava o Caboclo das Sete Encruzilhadas: “Igreja, Templo, Loja dão um aspecto de superioridade, enquanto Tenda lembra uma casa humilde!”.
Alguns anos após a fundação da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, outros médiuns foram preparados e convidados pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas a abrirem sete novos templos, que seriam núcleos que serviriam de base para a expansão da nova religião. Além desses templos, fundou também o Caboclo a “União Espírita de Umbanda do Brasil” em 1939.
Devido a sua inigualável atuação na consolidação da doutrina, é considerado o Caboclo das Sete Encruzilhadas o fundador e patrono da Umbanda no Brasil e sua importância para a religião pode ser percebida através de um de seus pontos cantados, que diz:
TENDA ESPÍRITA NOSSA SENHORA DA PIEDADE
Local aonde foi inaugurado o primeiro Templo de Umbanda do mundo
“Sabiá cantou no alto da laranjeira
Para saudar a estrela da Umbanda que brilhou.
E que brilha de dia, que brilha de noite e de madrugada
Porque no terreiro baixou o Caboclo das Sete Encruzilhadas!”.
NOTAS:
[1] O movimento Kardecista já contava pouco mais de meio século e havia sido importado da França através das obras de Allan Kardec.
[2] Zélio nasceu no dia 14 de abril de 1891.